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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Por que os brasileiros não reagem diante da corrupção de seus políticos?

O fato de que somente seis meses de governo, a presidente Dilma Rousseff ter demitido dois ministros de primeira importância, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, o da Casa Civil da Presidência, Antônio Paloci – uma espécie de primeiro ministro – e o de Transportes, Alfredo Nascimento, caídos ambos sob os escombros da corrupção política, pergunta-se aos sociólogos porque neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que “todos são ladrões” e que “ninguém vai à cadeia”, não existe o fenômeno, hoje em alta no mundo, do movimento dos indignados.


É que os brasileiros não sabem reagir frente a hipocrisia e falta de ética de muitos dos que lhes governam? É que não lhes importa que tantos políticos que lhes representam no governo, no Congresso, nos Estados e nos Municípios, sejam descarados ladrões do dinheiro público? Perguntam-se não poucos analistas e blogueiros políticos.

Nem sequer os jovens, trabalhadores e estudantes, têm manifestado até agora a mínima reação diante da corrupção de quem lhes governam. Curiosamente, a mais irritada diante do assalto aos cofres públicos do Estado parece ser a presidente Rousseff, que há mostrado publicamente seu desgosto com o “descontrole” atual em áreas de seu governo e há expulsado já literalmente de seu Executivo – e se diz que não há acabado ainda com a praga – a dois ministros-chave, com o agravante de que foram herdados de seu antecessor, o popular ex-presidente Lula da Silva, que lhe pediu que os mantivessem em seu governo.

A imprensa brasileira diz que Rousseff começou – e o preço que terá que pagar será elevado – a desfazer-se de uma certa “herança maldita” de hábitos de corrupção que vêm do passado. E a gente da rua, por que não faz eco ressucitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam nas redes sociais? Brasil, que com motivo da chamada da marcha Diretas já (uma campanha política no Brasil durante os anos de 1984 e 1985 com a qual se reividicava o direito de eleger o presidente do país por voto direto dos eleitores), saiu às ruas dentro da ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990 – 1992) a deixar a Presidência da República diante das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje (o Brasil) está mudo diante da corrupção. As únicas causas capazes de levar às rua até dois milhões de pessoas são os homossexuais, os seguidores das igrejas evangélicas na Marcha para Jesus e os que pedem a descriminação da maconha.

Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigirem um Brasil não só mais rico a cada dia, ou pelo menos menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, senão também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até 10 vezes mais que um professor e um deputado 100 vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (400 euros) e um funcionário público com até 30.000 reais (13.000 euros).
O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás em sua desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde uma mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas negras é de uns 20%, diante de 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais causa mortes no mundo.

Há quem responsabiliza a apatia dos jovens a ser protagonistas na renovação ética do país, ao fato de que uma propaganda bem desenhada lhes convenceu de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, em outros aspectos. Ou que a saída da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes fazia crer que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média européia equivale ainda hoje a um rico do Brasil.

Outros atribuem que os brasileiros são gente pacífica, pouco dado a protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar. Tudo isso é também certo, mas não explica que no mundo globalizado, onde hoje se conhece de imediato tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos sociais de protestos de milhões de jovens que pedem democracia ou à acusa de estar degenerada, os brasileiros não lutem para que o país além de ser mais rico seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.

Esse Brasil que os honestos sonham deixar como herança aos seus filhos e que, também é certo, é um país onde sua gente não há perdido o gosto de desfrutar do que tem, seria um lugar ainda melhor se surgira um movimento de indignados capaz de limpá-lo da gentalha da corrupção que abraça hoje a todas as esferas do poder. 

Conforme prometido, realizamos a tradução do artigo publicado no El país:

¿Por qué los brasileños no reaccionan ante la corrupción de sus políticos?


Faça parte do movimento dos indignados no facebook (entre com sua senha). 

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